______São Paulo e meu fiel amor que me perdoem, mas o Rio de Janeiro é SENSACIONAL. Contarei um breve caso que tive a sorte de presenciar.
______Sabe aquelas pequenas coisas, que quando a vida está pra lá de trágica, pensamos: Por essas coisas, é bom viver. E são coisas de minutos, segundos. Às vezes paisagens, sons, cheiros. Às vezes pequenos pensamentos e divagações, ou acontecimentos que marcam de forma inocente. Mentira dizer que só porque o Rio é o Rio, é assim o tempo todo, a vida toda. Mas que esses momentos de se suspirar e sorrir são mais comuns, isso é inegável.
______Orla de Copacabana, que coisa maravilhosa. Uma brisa um tanto forte, que parece não refrescar, mas é o que mantém vivo os amantes e odiadores do calor brasileiro. Não direi que andar por aquelas praias não canse, mas o estímulo é muito maior do que em qualquer lugar em que já estive. O cansaço me consome, as pernas doem pelo dia no sol e na areia, mas eu quero ver o pôr do sol daquele ângulo lá daquele ponto.
Minha introdução já passou de introdução à enredo, mas isso não importa. O Rio não tem regras.
______O caso é. Estávamos caminhando no calçadão, mais largo do que a própria Avenida Atlântica. Passávamos por restaurantes; passam gringos, brasileiros, paulista, gaúchos. Mas a verdade, é que lá, com o chinelo nos pés e o Sol nos cabelos, lisos ou crespos, todos são cariocas. Passávamos por toda aquela cariocada, pessoas, bares, cachorros em gostoso exagero de se ver. Fomos atravessar a rua, uma travessa da Avenida. Percebemos certo tumulto, e digam o que disserem as malditas bocas bairristas e preconceituosas, nada de medo, nada de sufoco, nada de frio na barriga: apenas uma curiosidade para ver o que se passava naquele dia brasileiro de verão.
______Eis o que era: um negro (não direi mulato se não o era) a comandar os carros que passavam por uma faixa da avenida específica e divida. Era um catador de lixo que, ao distribuir as suas latas de cerveja e refrigerante recolhidas durante o dia pelo asfalto ardente da avenida (vale-se notar que o brasileiro estava descalço), pedia distraído e feliz para que os carros passassem mais para ali, mais para lá, e em menos de 5 minutos, praticamente todas as latinhas amassadas.
______O mais gostoso de se ver, era o sorriso não só no rosto daquele negro, mas de todas as outras pessoas que olhavam, de dentro dos carros que amassavam as latas, da rua que pararam para ver aquele espetáculo crônico de um dia tipicamente carioca.
______Tudo é feito com bons propósitos, mas alguém sempre acha um propósito não tão digno. Então, que o jeitinho brasileiro é o que é, aceitamos. Mas que sua origem é criativa e nobre, ninguém pode negar.